Angra3 fica fora do PAC e setor teme paralisação das obras


O portfólio do Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) não engloba a finalização da usina de Angra 3, e sim a condução de uma “análise de viabilidade técnica, econômica e socioambiental” das obras pendentes. O cenário gerou incertezas sobre o futuro do projeto e sobre toda a cadeia produtiva do setor e indústria nuclear braseira, deixando todos os agentes econômicos apreensivos com esta possibilidade e neste momento decisivo. A obra da usina já está 70% concluída.

“Tememos a sua paralisação. Tem obras muito menos relevantes sendo incluídas no PAC e Angra 3, que é a maior obra do país, não está. Não incluir a conclusão deste empreendimento no PAC significa, na prática, ainda que não formalmente, acabar com o projeto. Esse é um momento decisivo para o setor unir esforços”, afirma Celso Cunha, presidente da ABDAN – Associação Brasileira para Desenvolvimento Atividades Nucleares.

Especialistas ressaltam o impacto disso para o Estado do Rio de Janeiro, “parando as obras, a Eletronuclear não tem como pagar as dívidas, então isso vai para a União. E assim, não será possível fazer as obras para manter Angra 1, irá impactar não somente Angra 1, mas também Angra 2. Será uma reação em cadeia para todas as empresas públicas do setor e, principalmente, para a arrecadação do Estado e para os empregos, porque temos um volume altíssimo de pessoas que vão ficar desempregadas”, explica Leonam Guimarães, engenheiro nuclear e diretor técnico da ABDAN.

A regra seria colocar no PAC obras que poderiam ser entregues nesta gestão, mas parece que estão ocorrendo pressões para inclusão de outras demandas. 

No âmbito do setor elétrico brasileiro, a conclusão da Usina Termonuclear Angra 3 (UTN Angra 3) tornou-se uma questão urgente. O NOS – Operador Nacional do Sistema já manifestou formalmente ao Ministério de Minas e Energia a importância estratégica da UTN Angra 3 nos estudos de planejamento da operação do Sistema Elétrico Brasileiro (SEB).

Segundo o MME, já foram aportados mais de R$ 7,8 bilhões no projeto e seriam necessários mais R$ 20 bilhões para a conclusão até 2029, cifra considerada alta demais no governo. Segundo a modelagem do BNDES, esse valor restante viria de um financiamento que seria pago por uma tarifa mais alta nos primeiros 15 anos. Essa tarifa permitiria servir a dívida e remunerar o capital numa TIR de 8% a 9%.

Porém, entidades e autoridades do setor alertam que os custos associados ao abandono da iniciativa representam mais da metade dos investimentos necessários para a conclusão da usina, cerca de R$ 15,2 bilhões.

“Os investimentos já realizados para a construção de Angra 3 representam um esforço da União e da Eletrobras. A conclusão da obra requer a obtenção de financiamento, sem necessidade de aporte financeiro direto da Eletrobras ou do Governo. E estes custos serão repassados aos consumidores quando a energia elétrica for gerada. A opção de interromper a construção exigirá recursos da União e da Eletrobras sem fonte de financiamento. Neste sentido, optar por essa alternativa não parece ser uma decisão sensata por diferentes aspectos, em especial pelo momento mundial de retomada dos investimentos em energia nuclear derivados diretamente do processo de descarbonização vinculado à transição energética. A interrupção abrirá a possibilidade concreta de quebra da cadeia produtiva do setor nuclear brasileiro, impedindo o Brasil de se posicionar de forma mais assertiva na nova dinâmica mundial, seja pela produção de urânio enriquecido, onde o Brasil tem potencial de competitividade alta, seja de não trazer para o Brasil cadeia de produção dos pequenos reatores nucleares (SMR). Esta externalidade de política industrial não está sendo considerada pelas autoridades públicas, será um erro estratégico”, na opinião do Prof. Nivalde de Castro, coordenador do GESEL-UFRJ. 

A ABDAN – Associação Brasileira para Desenvolvimento Atividades Nucleares propõe então que sejam utilizados recursos oriundos das outorgas a serem renovadas como aumento de participação acionaria no projeto, fazendo com que o valor da tarifa seja reduzido e o Estado Brasileiro pague por sua ineficiência.

Para o Ex-Secretário Estadual de Energia, Indústria Naval e Petróleo do Rio de Janeiro, Wagner Victer, Angra 3 é fundamental para a estabilidade do subsistema elétrico Sudeste e Centro Oeste, não só na capacidade de geração de energia de base, mas fundamentalmente para também garantir a segurança de toda essa região. “Além disso Angra 3 contribui profundamente para fechar e dar escala ao sistema nuclear Brasileiro envolvendo a produção de tecnologia, a segurança associada com as outras duas usinas nucleares colocadas no mesmo local em Angra. E fundamentalmente para o domínio dessa importante fonte de geração de energia, hoje considerada em Países Europeus como energia limpa por não emitir os gases do efeito estufa. Não há como prescindir das três usinas nucleares no Brasil para compor o sistema interligado Nacional”, reforça Victer.

Os equipamentos da UTN Angra 3 são mais um ponto de discussão no segmento, por conta da demora no processo de conclusão das obras. Manter as máquinas da usina em excelente condição é outro fator-chave para o funcionamento confiável e a maximização de sua vida útil.  

“Embora o projeto de Angra 3 tenha sido inicialmente concebido no final dos anos 1970, ao longo do tempo, uma série de adaptações foram implementadas na concepção original. Estas mudanças visaram incorporar avanços tecnológicos, lições aprendidas com a operação de outras instalações nucleares e as diretrizes de segurança estabelecidas pelas normas nacionais e internacionais, que passaram por revisões ao longo desse período. Essas modificações garantem que Angra 3 possua um nível de segurança e desempenho em total conformidade com os rigorosos padrões internacionais vigentes. Todos esses detalhes e informações estão minuciosamente registrados no relatório intitulado “Atualização do Padrão Técnico e de Segurança do Projeto de Angra 3″”, explica o diretor técnico da ABDAN, Leonam Guimarães.

“Através de uma estratégia de manutenção proativa e rigorosa, a Eletronuclear visa evitar problemas potenciais, minimizar paradas não programadas e otimizar a produção de energia. De acordo com os relatórios emitidos, os equipamentos de Angra 3 têm sido mantidos em perfeita atualização e se encontram em excelente estado de manutenção e conservação. A Eletronuclear, ciente da importância da tecnologia em constante evolução no setor nuclear, tem se dedicado a assegurar que os equipamentos estejam alinhados com os mais altos padrões de qualidade e segurança”, explica o presidente da ABDAN, Celso Cunha. O mercado já enxerga grandes impactos na empresa, tanto por Angra 3 como pela extensão da vida útil de Angra 1, que também tende a ficar prejudicado pela inviabilidade de se obter financiamento para o programa.

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