Angela Gheller, diretora de produtos para Manufatura da TOTVS/Divulgação
Quando falamos em transformação digital, cada setor da economia está em um ponto da jornada. Olhando especificamente para a indústria brasileira, ainda enfrentamos diversos desafios em sua jornada rumo à maturidade tecnológica, refletindo não apenas a complexidade do cenário econômico nacional, mas também as demandas globais por inovação e eficiência. A digitalização e a adoção de conceitos da famosa Indústria 4.0 são peças-chave nesse processo, mas a realidade é que existem diferentes níveis de maturidade na gestão industrial, e obstáculos a superar.
Podemos pontuar que hoje a indústria brasileira enfrenta três grandes desafios: a execução, em que observamos ainda uma baixa digitalização no chão de fábrica, nos deparando com diversas empresas persistindo em processos manuais baseados em papel, o que faz com que a transição para sistemas digitais e a análise de dados seja ainda mais complexa.
Em relação à gestão, a manufatura nacional ainda enfrenta uma baixa produtividade perto do potencial, causada sobretudo pela falta de integração e comunicação entre diferentes áreas da empresa. Um exemplo: o time de produção não conversa com os de vendas e compras, gerando atrasos, possíveis rupturas ou problemas de armazenamento, elevando os custos da produção.
E entre os obstáculos está o desafio da tecnologia, o maior deles. Sem digitalização, as indústrias sofrem com a falta de dados e, consequentemente, a falta de uma análise inteligente para tomadas de decisões e definições de estratégias efetivas para o negócio. Muito disso se dá por uma falta de compreensão clara dos conceitos e benefícios da Indústria 4.0, de forma que não existe um roadmap definido sobre quais soluções e ferramentas a empresa precisa e quais são os retornos obtidos no dia a dia.
Olhando para esses desafios e para a forma como são enfrentados, é possível posicionar as indústrias em diferentes níveis de maturidade de gestão, entendendo quais são as possibilidades de negócios e de avanços no cenário nacional.
Nível 1 – Operacionalização
Neste estágio inicial, as empresas focam na automação de processos básicos, como a implementação de ERPs para gerenciar recursos empresariais. Nesse ponto, a empresa solucionou a questão inicial da digitalização e da produtividade, uma vez que as informações e as áreas estão trabalhando em conjunto, tendo visibilidade e contato sobre o que está sendo demandado, o que está sendo produzido etc. Observamos que a empresa adota práticas de gestão à vista para monitorar o desempenho operacional.
Um ponto importante desta fase é a conscientização e mudança de cultura, promovendo a digitalização e a capacitação dos colaboradores para extraírem todo o potencial das ferramentas implementadas, entendendo o quanto a tecnologia apoia a performance da operação. Com essa “nova” cultura, é possível avançar para a adoção de soluções de mobilidade, manutenção de ativos e outras que podem alavancar ainda mais os resultados.
Nível 2 – Otimização Industrial
Neste nível, a indústria já possui uma gestão digitalizada, de forma a incrementar o planejamento para utilizar ferramentas de automação ainda mais avançadas, como: MES (Manufacturing Execution Systems), para controlar e monitorar a produção em tempo real; MRP (Material Requirements Planning), para o planejamento de materiais; CRP (Capacity Requirements Planning), para planejamento de cargas nas máquinas; ou ainda um APS (Advanced Planning and Scheduling) para otimizar a utilização de recursos totais e minimizar desperdícios.
Nível 3 – Indústria 4.0
No patamar mais avançado de maturidade, as empresas abraçam plenamente ou têm grande potencial para investirem nos princípios da Indústria 4.0. Neste nível de maturidade observamos empresas que já possuem uma cultura de digitalização e estão habilitadas em tecnologias de inteligência industrial. Neste nível, é possível incorporar tecnologias preditivas, como Inteligência Artificial aplicada ao MES, e trabalhar com algoritmos para predições futuras e desenhar estratégias para o negócio. Neste grupo também estão indústrias que já se preparam para a ampla conectividade do 5G, investindo no uso de sensores e dispositivos IoT, além de comunicação M2M (Machine-to-Machine) para aprimorar a automação e a tomada de decisões baseada em dados em todos os níveis da operação.
A maturidade tecnológica das indústrias brasileiras está em constante evolução, impulsionada pela necessidade de competitividade e pela busca por eficiência e inovação. Superar os desafios e avançar nos diferentes níveis de gestão industrial são passos essenciais para garantir a sustentabilidade e o crescimento no mercado globalizado, entendendo quais ferramentas são necessárias para o seu momento atual e tendo parceiros de negócios e tecnologias para dar o suporte necessário nessa jornada para o amadurecimento e avanço sentido à real Indústria 4.0.