Brasil e Argentina são os únicos países da América Latina que ainda possuem novos projetos de usinas de carvão aprovados ou em desenvolvimento, indo na contramão da tendência global e das recomendações da comunidade científica, segundo relatório lançado (11/04) que traça um panorama da exploração de carvão no mundo.
No final de 2023, a IEA – Agência Internacional de Energia divulgou uma análise que aponta que a demanda global por petróleo, gás natural e carvão atingirá seu pico em 2030, com o carvão passando a ser o combustível fóssil com maior queda de demanda a partir da próxima década, por isso tornando anacrônico qualquer investimento em novos projetos. Apesar disso Brasil está prestes a ampliar benefícios financeiros para usinas a carvão instaladas no país: o projeto de lei das eólicas offshore (PL 11.247/18) foi aprovado na Câmara dos Deputados com coisas que beneficiam combustíveis fósseis, como a obrigatória recontratação de térmicas a carvão até 2050 e também geração a gás, o que pode gerar custos de R$28 bilhões anuais para todos os consumidores de energia elétrica, segundo cálculos da ABRACE.
Destaque-se que as usinas brasileiras de energia Nova Seival e Pedras Altas (ou “Ouro Negro”) tinham previsão de iniciar suas operações entre 2026 e 2027, mas com os obstáculos financeiros e judiciais nas fases de desenvolvimento, nenhum dos projetos avançou em 2023 e ambos estão paralisados, ainda que não tenham sido oficialmente cancelados.
Dados do Global Coal Plant Tracker mostram que 69,5 GW de capacidade de energia a carvão entraram em operação em todo o mundo, enquanto 21,1 GW foram desativados em 2023, resultando em um aumento líquido anual de 48,4 GW para o ano e uma capacidade total global de 2.130 GW. Este é o maior aumento líquido na capacidade de carvão em operação desde 2016.
Uma onda de novas usinas de carvão entrando em operação na China, na Indonésia, Índia, Vietnã, Japão, Bangladesh, Paquistão, Coreia do Sul, Grécia e Zimbábue. No total, 22,1 GW. A redução das desativações nos Estados Unidos e na Europa contribuiu para o aumento da capacidade de carvão.
O relatório também mostra que os países membros do G7 representam 15% (310 GW) da capacidade de carvão em operação no mundo. O G7 não possui mais nenhuma usina a carvão em construção, mas ainda abriga uma proposta no Japão e duas nos EUA. O relatório mostra também que o G20 é responsável por 92% da capacidade de carvão em operação no mundo (1.968 GW) e 88% da capacidade de carvão em pré-construção (336 GW).
Além do Monitor Global de Energia, os coautores do relatório são o Centro de Pesquisa em Energia e Ar Limpo, E3G, Reclaim Finance, Sierra Club, Solutions for Our Climate, Kiko Network, Grupos de Bangladesh, Trend Asia, Aliança pela Justiça Climática e Energia Limpa, Chile Sustentável, POLEN Transiciones Justas, Iniciativa Climática do México e Arayara.