Consumo consciente: falta de conhecimento sobre sustentabilidade e o preço dos produtos sustentáveis são grandes desafios para o país

Guilherme Setubal é gerente executivo de ESG e Relações com Investidores da Dexco, e Membro do Conselho do Instituto Itaúsa

“Nós vivemos um momento de aproximação cada vez mais rápida dos limites planetários, dos quais, já ultrapassamos quatro: as mudanças climáticas, a integridade da biosfera, o uso do solo e a fronteira dos fluxos bioquímicos, que engloba principalmente os ciclos do fósforo e do nitrogênio. Estamos enfrentando desequilíbrios simultâneos, inclusive sociais, e todos nós somos responsáveis por contribuir para o bem-estar da sociedade e do nosso planeta. A decisão por práticas, produtos e uma vida mais sustentável, de forma geral, é de cada um. E é diária.
Digamos que a atividade humana acabou deixando o planeta febril, e agora, precisamos dar um jeito de revigorar sua saúde. Acredito que o consumo consciente, com odespertar da consciência da população sobre os problemas socioambientais causados pelos atuais padrões de consumo, tem um grande papel nesse sentido. As pessoas podem e devem escolher consumir de forma consciente, gerando, assim, muitos benefícios para si mesmas e também para o meio ambiente.

Segundo um estudo global da Kantar, a falta de conhecimento sobre sustentabilidade e o alto preço dos produtos associados a ela são as principais barreiras para os consumidores adotarem esse estilo de vida, em 97% dos casos. No Brasil, apenas 14% dos que dizem viver de forma sustentável estão, de fato, mudando seu comportamento. De acordo com a pesquisa, os principais motivos são: 75% apontam que o custo de vida os impede de fazer mais pelo planeta, e 43% afirmam não saber onde encontrar produtos sustentáveis nem quais hábitos adotar.

Penso que ao ser mais consciente nas decisões de compra, o consumidor tem acesso a produtos de melhor qualidade, vida útil e, à medida que mais pessoas participam de decisões de compras éticas, as empresas mudam a maneira como trabalham. É um ciclo virtuoso. Uma mudança de comportamento vai depender do avanço da responsabilidade compartilhada: a união de forças entre governo, empresas, organizações da sociedade civil e, também, consumidores. Por esta razão, a viabilização de políticas públicas, leis, incentivos, educação, alternativas e produtos sustentáveis são pontos fundamentais para o debate.

Alguns simples incentivos como a disponibilização, nos municípios, de um sistema de coleta seletiva mais abrangente, do investimento em transporte público e infraestrutura para o uso de bicicletas, além do estímulo a empresas que invistam em uma produção sustentável, por exemplo, podem impulsionar a mudança de comportamento dos consumidores e das empresas. Outro ponto importante é quanto à educação. Ao mesmo tempo em que é preciso haver investimento em infraestrutura, é fundamental o trabalho de base em educação, para incorporar desde cedo nas novas gerações o conceito do consumo consciente.
Segundo o Relatório Brasil – Vida Sustentável, realizado pela Akatu junto da GlobalScan, consultoria de pesquisa de opinião pública, mais de 80% dos consumidores esperam que as empresas informem sobre os seus processos produtivos e cuidem do que está sob seu controle operacional. O ponto positivo é que hoje, ao contrário de alguns anos atrás, as marcas estão cada vez mais próximas do consumidor e, sim, ele está mais consciente, tem uma preocupação maior com o ambiente, com o futuro da natureza, e está cobrando que as empresas desenvolvam produtos mais sustentáveis.
O grande desafio é conseguir entregar bons produtos e soluções sustentáveis, que exigem muita pesquisa, disposição para inovação, formação de equipes de trabalho comprometidas, bons fornecedores, sem custo adicional. Porque eles têm que ser sustentáveis financeiramente também. Torneiras e bacias que economizam água, chuveiros que reduzem o consumo de energia elétrica, construções modulares, são só alguns exemplos da aplicação da sustentabilidade no setor de reforma e construção. Um segmento tão importante como esse para o país tem uma enorme responsabilidade com o futuro do planeta, assim como outros tão relevantes quanto o da alimentação, saúde, higiene, vestuário.

Fica aqui um convite para o consumidor fazer parte também dessa jornada, pesquisando, indo atrás de informações sobre o que está comprando. As empresas estão trabalhando para entregar produtos mais sustentáveis, investindo em tecnologia, ciência, produtividade – com ganho de escala – e inovação. Não só inovação na forma de um produto novo, mas em como fazer os produtos habituais, como encaminhar a matéria-prima no processo produtivo.
Creio que é um caminho de mão dupla. Os consumidores têm que pesquisar mais e as empresas têm, sim, um papel importantíssimo de engajar os consumidores, e divulgar mais e melhor seus atributos sustentáveis, refletindo sempre se a forma como estão comunicando institucionalmente sua pauta ESG está chegando como deveria para as pessoas. A sensação é de que muitos não entendem como os benefícios são tangíveis no dia a dia.
Por exemplo, será que uma comunicação institucional de uma empresa que produz sem desmatamento, está informando esse e outros compromissos na embalagem dos produtos que chegam para os consumidores nas prateleiras dos estabelecimentos? Na maioria das vezes não, então as pessoas não fazem esse vínculo, não enxergam os processos sustentáveis relacionados à produção dos produtos que consomem. Assim, as empresas que conseguirem comunicar bem suas práticas para o consumidor final, sairão na frente. Enquanto os atores ficarem nesse impasse, no qual empresas alegam que o consumidor não dá valor para a questão do meio ambiente e o consumidor diz que as empresas não mostram seu valor, todos sairão perdendo. É hora de fortalecer laços”.

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