Pesquisa mostra que estruturação de financiamento pode habilitar a economia de US$ 50 trilhões para o setor privado global


Para alcançar as metas de sustentabilidade e zero emissões líquidas em todo o mundo, é necessário um investimento significativo em projetos de energia limpa e sustentável. Atualmente, muitos desses projetos existem, mas não recebem a quantidade de recursos necessária. Segundo o estudo “Financing the Green Energy Transition” da Deloitte – organização com o portfólio de serviços profissionais mais diversificado do mundo –, uma estrutura financeira inovadora poderia economizar ao mundo US$ 50 trilhões na descarbonização do sistema energético.

O relatório apresenta que a transição energética exige investimentos anuais de US$ 5 trilhões a US$ 7 trilhões até 2050. Contudo, atualmente, menos de US$ 2 trilhões são investidos por ano, o que compromete os objetivos climáticos. A principal barreira é que muitos projetos de energia limpa são vistos como de alto risco ou pouco rentáveis. Para resolver isso, o estudo afirma que é preciso tornar esses projetos mais atrativos e menos arriscados. Uma das medidas essenciais para acelerar essa transição é o financiamento através de capital concessional, que oferece apoio financeiro em condições mais favoráveis do que as do mercado comercial, como taxas de juros mais baixas, prazos de pagamento mais longos e períodos de carência mais extensos.

De acordo com o relatório, sem esse tipo de financiamento, a transição para emissões líquidas zero custaria mais de US$ 7 trilhões por ano até 2050. Cerca de 70% desses investimentos seriam necessários em mercados emergentes e economias em desenvolvimento, onde o acesso ao capital é mais limitado. Ao reduzir os custos e tornar os projetos financiáveis, o financiamento concessional pode facilitar o fluxo de capital privado, reduzindo a necessidade de investimentos em US$ 2 trilhões por ano (totalizando US$ 50 trilhões até 2050). Essa economia significativa ocorre porque tornar os projetos menos arriscados e mais atrativos libera recursos que antes eram inacessíveis devido aos altos riscos percebidos. Com mais investimentos privados fluindo para projetos de energia limpa, o custo total da transição é reduzido, e mais recursos são desbloqueados para novos investimentos. O estudo aponta que a mobilização de mecanismos de mitigação de riscos e estruturas de financiamento inovadoras são fundamentais para tornar a transição energética possível, além de acessível e equitativa, especialmente para mercados emergentes e as economias em desenvolvimento, possibilitando a transformação energética global e contribuindo significativamente para a redução das mudanças climáticas.

“Os investimentos em transição energética representam uma oportunidade sem precedentes para o crescimento econômico e a prosperidade justa, abrangendo todos os stakeholders financeiros — públicos, privados e filantrópicos — e incluindo projetos onde recursos precisam ser alocados para avançar a agenda de financiamento climático. Precisamos focar a conversa nas oportunidades dos investimentos climáticos, em vez de apenas nos riscos do financiamento climático, esse será um instrumento poderoso para direcionar níveis transformacionais de capital privado para a agenda climática”, avalia Luiz Paulo Pereira Assis, sócio responsável por Finanças Sustentáveis da Deloitte.

O estudo divide a redução de custos em dois momentos: implementação de mecanismos de mitigação de riscos e a evolução do aprendizado financeiro; e a flexibilidade de financiamento de projetos sustentáveis. O primeiro deles leva em consideração uma combinação de custo e eficiência de diferentes instrumentos de mitigação de riscos, que podem reduzir em US$ 40 trilhões os custos da transição energética até 2050. O impacto e a eficácia dessas medidas estão condicionados às circunstâncias específicas do mercado, geografias e maturidade das tecnologias. Para minimizar os riscos, o relatório indica que instrumentos regulatórios e de informação são fundamentais para construir um ecossistema com baixos riscos de projetos com impacto climático positivo. Políticas eficazes em energia e clima podem ajudar a proporcionar transparência e visibilidade para investidores e credores, criando o quadro regulatório adequado para facilitar o desenvolvimento e financiamento de projetos.

Outro ponto explorado no estudo são os efeitos de aprendizado financeiro. À medida que investidores e credores melhoram sua percepção de risco de projetos verdes ao longo do tempo e os mercados e ambientes regulatórios amadurecem, o custo do capital pode diminuir ainda mais. O estudo afirma que, como as taxas de juros para projetos sustentáveis devem reduzir com o passar dos anos, os projetos podem ser beneficiados com a diminuição dos custos mesmo após a finalização da execução. O refinanciamento da dívida e do capital pode desmobilizar até US$ 10 trilhões em economias cumulativas até 2050.

O relatório pontua que as partes interessadas, entre investidores, governantes, bancos e organizações internacionais, devem trabalhar juntas para reformular o ambiente atual de financiamento de projetos em um ecossistema mais funcional e sustentável. Outra peça fundamental neste processo são as Instituições Financeiras de Desenvolvimento (DFIs) Bancos Multilaterais de Desenvolvimentos (MDBs) e Assistência Oficial ao Desenvolvimento (ODA), que, segundo o estudo, devem aprofundar sua análise das ferramentas de mitigação de riscos de projetos sustentáveis e capital concessional para consolidar seu papel como instituições de desenvolvimento para facilitar a participação de investidores privados. “Há uma discussão sobre como operacionalizar as estratégias de investimento em projetos de capital, especialmente no que diz respeito ao papel dos DFIs e MDBs.

Anteriormente, os bancos de desenvolvimento seguiam uma estratégia chamada “originate and hold”, onde eles investiam no projeto desde o início até o final. No entanto, o estudo mostra que isso não é eficiente para mobilizar capital, pois os riscos diminuem ao longo do tempo. Agora, está havendo uma mudança para uma estratégia chamada “originate and distribute” (ou “originar e distribuir”). Nessa abordagem, os bancos de desenvolvimento entram no projeto para reduzir os riscos iniciais, em sua fase mais crítica. À medida que os riscos diminuem, eles compartilham o projeto com o mercado financeiro, emitindo bonds que podem ser comprados por bancos e investidores no mercado secundário”, afirma Luiz Paulo.

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